Fonte: SeuTubo.
Ministro, o que eu vou relatar
aqui não é nada muito diferente do que todos sabem, ou pelo menos, especulam. É
bom que a torcida esteja acordando e vendo como as coisas são feitas no clube.
Se por um lado é importante que nós saibamos como funcionam as entranhas da
entidade, ainda que apenas parcialmente, por outro é um tremendo desestímulo
para continuar acompanhando o futebol. Não acredito que em outros clubes de
futebol do Brasil as coisas sejam feitas de modo diferente.
O Inter se tornou uma ação entre amigos.
Há muitos anos. Eu vou ilustrar alguns fatos aqui que se forem analisados num
contexto do que aconteceu com o Internacional dos últimos anos farão muito
sentido. Alguns destes fatos foram notícias, inclusive. Outros, não. Bastará ao
paciencioso leitor juntar os pontos.
Já faz tempo que o principal
grupo político domina as mais variadas áreas do clube: das categorias de base,
passando pelo patrimônio, marketing e finanças e, enfim, o próprio futebol em
si, com a gestão do grupo principal de jogadores, e por aí vai. O resultado
desta estrada pavimentada, com curvas suaves e bem sinalizada, cheia de boas
intenções (até que se prove o contrário), que atende pelo nome de
“continuidade”, todos sabem, é o inferno. É onde estamos.
Bem, feito isto de introdução,
passo a narrar alguns acontecimentos que presenciei ou tive conhecimento.
Profissional renomado e dito
“olheiro” das categorias de base recebeu visita de dirigente na beira do campo
suplementar (que na época ainda existia) enquanto uma gurizada fazia rachão.
Certo cartola se aproxima e aponta para alguns garotos que são trazidos por um
dos poucos empresários que têm livre circulação no Beira-Rio. Resultado: estes
são “aprovados” na peneira. Outros, com mais bola no corpo, mais porte físico,
enfim, mais talhados para serem jogadores de futebol, dispensados sob os
olhares incrédulos de quem assistia o evento. Vi, este mesmo senhor, recebendo,
digamos, um agrado, de um destes que acompanhava o cartola. Isso ninguém me
disse, pois eu vi.
Já mais recentemente, outras duas
situações envolvendo o mesmo grupo. Meu irmão, na época na faculdade, foi
colega de uma garota que é sobrinha de um do grupo. Ela dizia, com franqueza,
que o patrimônio de seu tio aumentou exponencialmente quando o Inter começou a
vencer e arrumar destaque nacional e sulamericano. Ela não entendia,
evidentemente, como, já que ele passava mais tempo no Beira-Rio ocupando um
cargo não remunerado em detrimento das horas de trabalho dentro de sua empresa,
que, aliás, não ia tão bem. Este que me refiro passou por vários cargos dentro
do Clube.
Também tive em minhas mãos, para
análise e parecer, um contrato de um não tão famoso lateral direito que passou
pelo Inter. Veio do interior depois de uma temporada destacada. Recebia, antes
de chegar, 4 dígitos antes da vírgula. Passou a receber, pelo menos no
contrato, 6. Resultados de campo péssimos fizeram ser negociado
através do mesmo grupo de empresários que atua como um câncer nas
entranhas do Internacional. Tudo com a ciência e aval da direção da época.
Este atleta foi parar no centro
do País com o Inter pagando seu salário, mas outros problemas sucederam e o
contrato virou uma bronca jurídica.
Este mesmo grupo associado aos
nossos dirigentes trouxe tantos jogadores quanto se pode imaginar, mas eu cito
um, pois é caso emblemático: certa feita, trouxeram um rapaz búlgaro, isso
mesmo, búlgaro, de nome Ninov. Stoyan Ninov. Ele esteve por aqui, voltou pra
Europa e encerrou sua aparentemente curta carreira em seguida. Eu não o chamo
de jogador porque não sei nem se ele era, de fato, jogador antes de vir pra cá.
Interprete como queira, caro leitor.
Aod Cunha tinha um plano para
tornar o Inter uma potência, organizando-o como uma entidade profissional, com
metas, desempenho, cortes de privilégios e aprimoramento dos processos de
gestão. Quando entregou suas primeiras impressões para a direção da época foi,
simplesmente, defenestrado. Quando viu que não teria nenhum respaldo pra fazer
o que pretendia, pegou seu boné e vazou.
Depois, Fernandão denunciou a
zona de conforto e os puxadinhos colorados.
De lá pra cá, todos sabem o que
aconteceu e o clube vem definhando.
Vou contar, pra encerrar, a
história de um clube de futebol que outrora foi um glorioso Clube, com muitos
associados, bom patrimônio, fazia times fortes e tinha boa colocação no cenário
nacional. Hoje é uma piada. Um arremedo do que já foi.
Este clube foi saqueado por
sucessivas direções que dilapidaram seu patrimônio, fez times cada vez piores,
desceu de divisões e se afundou em dívidas. Teve estádio sucateado e penhorado
(seu estádio estava sendo arrematado por um grupo de supermercados num leilão
que o clube procurava anular) e perdeu tudo o que tinha: do prestígio ao time
em si mesmo.
Falo do Guarani de Campinas.
Minha esposa é campineira e então, volta e meia vamos lá pra ver a família
dela. Quando estou por lá sempre busco notícias sobre Guarani e Ponte. A
família dela era toda sócia do Guarani nos 80’ e, então, a partir dos 90’ a
quebradeira começou.
Hoje o Brinco de Ouro é uma
sucata cheia de pendências judiciais. Segundos meus familiares, era um
esplendor de patrimônio. Todos na cidade sabem quem foi que detonou o Clube,
mas “não há nada a fazer”, dizem.
O Inter está seguindo a mesma
cartilha do Bugre, só que tem mais lenha pra queimar e por isso vai demorar
mais tempo sangrando antes de virar um nada.
Pra não dizer que não falei dos
nossos “propagandeiros”, vou dizer: nosso marketing é um zero! Em Campinas, uma
das cidades mais importantes do Brasil e talvez a mais importante do interior
de São Paulo, o estado mais rico do país, não se vê camisetas do Inter nem
produtos colorados. O que se vê são coisas de Corinthians, São Paulo e
Palmeiras, que rivalizam com os locais Ponte e Guarani. Com menos incidência se
vê produtos de Santos, Flamengo e Vasco. Alguma coisa de Cruzeiro e, adivinhem,
dos Bananas de Pijama.
Os jornais se referem a nós como
“Inter-RS” pra diferenciar do Inter de LIMEIRA que é a cidade que fica ali
pertinho. Isso é a prova de como encolhemos.
Até o Boca Jrs tem uma escolinha
na cidade. O Inter não faz NADA.
É uma pena. Meu avô comprou
títulos de sócios do Parque Gigante logo que abriu. Somos colorados desde
pequenos, mas eu não tenho saco nem estômago pra acompanhar o que fazem do
Inter hoje em dia.
Repare que não falei de times nem
de esquemas táticos ou coisa que o valha, até porque, as premissas sob as quais
estas coisas se fundam (times e esquemas) são os mesmos dogmas que conduzem o
clube por águas vetustas e há muito obsoletas. Não há futuro para o Inter,
salvo engano.
Perdão pelo desalento, mas é a
pura verdade de como as coisas são feitas no Sport Club Internacional.
Cordial abraço pros amigos.
Rafael Malmann
PS. O vídeo do YouTube foi escolha do Ministro.